domingo, 31 de janeiro de 2016

LITERATURA E POESIA

Ou fazemos Literatura e Poesia com a verdade de hoje ou com a imaginação prazenteira de ontem. Se a fizermos com a verdade, tornamo-nos impopulares. Porque a verdade é que o Amor é breve , mas a Amizade é eterna; porque a paixão é instantânea, mas o sentimento é perdurável ; porque tudo vai passando, com excepção da verdade com que ajudamos os outros e com que somos ajudados. Toda a gente quer ser ajudado. Quase ninguém está para ter o incómodo de ajudar. 

Assim , a Literatura e a Poesia deixam de o ser e passam a ser a xaropada com que se deliciam os néscios : "oh , minha amada de olhos de cetim e de colo de garça" (mas quem é que já vai nisto ?) Há quem queira fazer Literatura e Poesia assim : a "dizer bonito". Caem no ridículo num instante ! Os outros são os que se atrevem a falar na finitude dos homens, a boiar no ventre de um Tempo infinito. 
Pego hoje mesmo numa antologia de Poesia portuguesa e concluo que a maior parte - a larga maior parte- daquilo tudo, passou. Pouco sobra. Digo, quase nada sobra.

E que ninguém diga que afirmo isto por vaidade. Como quem diz : " E agora eu" !
Nada disso. E agora, eles : os visionários, os alquimistas, os do sonho acordado, os carrascos do antigo bom-gosto, os arautos de um Tempo novo. E nada disto sou eu. Nada, mesmo.
Mas obrigarem-me a dizer que a Literatura e a Poesia é a xaropada pretérita, não. Isso, não ! 
O Tempo é outro . Outras vozes estão à espera, para se fazerem ouvir.

sábado, 30 de janeiro de 2016

31 DE JANEIRO DE 1891- A EVOCAR SEMPRE !


Amanhã passa mais um aniversário da revolta portuense de 31 de Janeiro. No ano de 1891, na ressaca do Ultimato inglês, um punhado de soldados, cabos e sargentos pegaram em armas contra o regime monárquico. 

A revolta acabou por falhar, mas constituiu o farol para a arrancada para a proclamação da República, finalmente alcançada em 5 de Outubro de 1910.

Alguns Republicanos de Coimbra, pertencentes ao "Movimento Republicano 5 de Outubro", irão juntar-se num jantar evocativo.

Como não me é possível estar, daqui lhes mando o abraço caloroso, para partilharem amanhã.


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

ALGO ESTÁ PODRE NO REINO DA DINAMARCA ( TO BE, OR NOT TO BE ...)


A Dinamarca - país que eu costumava admirar - estabeleceu uma legislação para "refugiados" e para "deslocados" que diz assim : - Vocês entram, mas pagam ! Até mil e não sei quantos euros, guardam para vocês. Daí para diante, é nosso. Para "cobrir as despesas" da vossa "recepção".

Salvo o devido respeito por opiniões em contrário, isto é simplesmente MISERÁVEL! 

Era preferível que a Dinamarca assumisse que não queria receber ninguém. Mantinha, ao menos, uma nesga de respeitabilidade.

E tanto se falou contra a Hungria , acoimando-a de "filo-nazi", só porque assumiu, peremptoriamente, que não desejava ter refugiados no seu território ... Então e agora tudo se cala relativamente a esta miséria moral ?

«Oh, menino, tu entras, mas eu permito que tu conserves uns míseros valores, que mal te dão para um mês de permanência. E agora dá cá o computador; e o "tablet" ; e o telemóvel ; e a medalha do ouro ; e o televisor portátil . Estes objectos ( em segunda mão, carago ! ) vão servir para pagar as sopas que tu e os teus vão comer , nesta terra de Hamlet".


Alguma coisa está definitivamente podre no Reino da Dinamarca !

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

UM BALANÇO HISTÓRICO


Se estou decepcionado ? Apenas relativamente. Tive esperança que o Nóvoa e alguns dos demais forçassem o candidato da Direita à segunda volta. Mas nunca tive a certeza bem enraizada de um resultado feliz para a Esquerda. 
E isto porquê ? Porque, sendo um "aprendiz de historiador", sempre me dei conta que a população portuguesa é uma população sociologicamente afecta às teses da conservação social. 
Quando se implantou a Liberdade em Portugal, nos idos de 1820, confrontaram-se dois partidos liberais : um, o Cartista, profundamente conservador ; outro, o Vintista - que depois originou o Setembrismo- , de teor radical. O Vintismo radical, em tempo de governação, talvez tenha governado a vigésima parte do tempo em que governou o partido liberal conservador. E o chamado Povo sofria - oh, se sofria! Era analfabeto, maltratado, crivado de impostos, mas subserviente. E nunca teve o assomo suficiente para "a energia dum coice" ( relembrando aqui o Junqueiro). 

Quando se criaram o Partido Socialista ( em 1875) e o Partido Republicano (entre 1876 e 1883) , até as elites "pensantes" preferiram o republicanismo ao socialismo... 
E a vitória do republicanismo na Rotunda, sobre as forças realengas da Monarquia Constitucional, verifica-se por um primeiro gesto, quase suicidário, de Machado Santos. A população portuguesa, nessa altura, não era republicana. Era dormente e conformada. A República deu um safanão. Mas o único republicanismo de jeito - o de Afonso Costa - foi logo duramente atacado pelos republicanismos de António José de Almeida e de Brito Camacho, versões muito mais conservadoras do que o dos "afonsistas". Ainda hoje, para certos "pensantes", Afonso Costa é mostrado como a prefiguração do Diabo. 
E - aqui para nós - o 25 de Abril não foi feito pelo Povo. Foi feito por uns tantos Capitães, fartinhos de guerra. O Povo veio depois, gritar o "vivório" e "fazer a festa". 
E como "o Povo é quem mais ordena" (digamos, "meio-povo" , atendendo à abstenção), este Povo votante quis, preferiu, "sintonizou" Marcelo. 
EM CONSONÃNCIA CLARA COM AQUELA QUE FOI E CONTINUA A SER A MAIORIA IDEOLÓGICA DESTE PAÍS. Desde o princípio da fórmula demo-liberal sempre foi assim. SEMPRE! 
Por isso, quem prefere outros caminhos, terá muito a fazer. Muito a insistir. Muito a encaixar decepções. Muito a ensinar. E a ensinar maus alunos ... 
Se tiver pachorra para tanto. Eu vou ver se não a perco ...

sábado, 23 de janeiro de 2016

A COMÉDIA DA VIDA


Não há nada mais cómico do que a vida, encarada do ponto de vista das motivações económicas. As pessoas lutam, no decurso dos seus melhores anos, para serem ricas - ou pelo menos para terem um estatuto de desafogo. Quando lá chegam, têm artroses, palpitações cardíacas, bicos de papagaio, ausência de controlo dos esfíncteres, insónias, doenças de Parkinson e outras "delícias".

Depois morrem. Nessa altura toda a gente lhes rende a homenagem da simpatia, a qual lhe foi negada durante o período áureo da "luta pela vida" , quando muitos lhes chamaram "sacanas", javardos e pulhas. Mas aí já eles não gozam nada. Aliás, há quem sustente que essas amabilidades só são ditas porque quem elogia sabe que o destinatário está morto.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

UMA AGENDA-PLANNING


Aquele homem preocupado e carrancudo entrou na pequena papelaria de bairro, que funcionava no aproveitamento de um vão de escada, e esperou a sua vez. A empregada, ruiva, com pernas magríssimas, interrogou-o "à brasileira" : - Pois não ?
Ele respondeu - Pois sim ; queria uma agenda-planning.
- Uma quê ? - disse a ruiva.
- Queria saber se vendem aqui agendas-planning.
- Nós vendemos agendas, sim. É uma agenda quê ?
-Planning, menina, planning. É para eu poder programar a minha vida.
-Mas o senhor só programa a sua vida com agendas?
-Mau - disse o homem, cada vez mais carrancudo.
- Mau, ou agenda-planning ? - replicou a pernas- de-camarão.
- Eu não estou habituado a ser tratado assim quando entro numa loja para comprar.
- Acredito, mas o Senhor ainda não comprou nada.
- Mas quero comprar uma agenda-planning.
- Confesse que é por não saber planear a sua vida pela sua cabeça ! - e a ruiva deu uma gargalhadinha.
- Olhe uma coisa e de uma vez por todas - replicou o homem, afogueadíssimo, quase apoplético - tem ou não tem agendas-planning?
- É conforme a natureza e alcance do seu planeamento - declarou a ruiva, com arrogância.
- Mas o meu planeamento é só comigo ! Ora não querem ver isto ? O que a Senhora tem de me dizer é se tem à venda, ou não agendas-planning.
- E eu estou farta de lhe dizer que só poderei responder a essa pergunta se o Senhor me disser como planeia a sua vida. É à semana ? Ao mês ? trimestralmente?
- Mas o que é que a Senhora tem com isso.
- Tenho tudo. Tudo ! Sou eu que lhe venderei - ou não - uma agenda-planning.
O homem, mais vermelho do que um tomate, afirmou, pomposo e grave:
-Traga-me o livro de reclamações !
- Qual livro ? - contrapôs a ruiva de pernas-de-canivete.
- O de reclamações - contrapôs o homem.
- Mas olhe que temos melhor. Repare : colecção completa do Rintintin ; números esparsos da "Colecção Vampiro" ; os três últimos números da "Maria", com o Tony Carreira na capa em dois deles. E pede-me o Senhor a sensaboria de um livro de reclamações ???
O Senhor preocupado e carrancudo já não quis ouvir mais. Saiu da papelaria e foi direitinho a um polícia, ao qual contou todo o lamentável episódio. O polícia deu-lhe razão e prontificou-se a acompanhá-lo à tal papelaria de "vão de escada".
Quando lá chegaram, a tal serigaita ruiva já não se encontrava ao balcão. Estava lá uma Senhora corpulenta, toda vestida de preto e com uma verruga.
O homem carrancudo dirigiu-se-lhe, fazendo um esforço infinito para falar com urbanidade:
- Minha Senhora, venho aqui com este agente da Autoridade para apresentar uma reclamação. A sua empregada ruiva, segundo imagino, esteve a troçar comigo durante mais de dez minutos e não me soube dizer se eu podia ou não comprar aqui uma agenda-planning.
-Empregada? Ruiva ? Mas eu sou sozinha, viúva há mais de doze anos, sempre à frente deste pouco rendoso negócio. Pelo que vejo, o Senhor quer uma agenda-planning. Muito bem. Do que se trata é de saber como o Senhor planeia a sua vida. É à semana ? ao mês ? trimestralmente ?
O homem carrancudo teve um acesso de tosse e morreu ali mesmo. Redondo. Instantâneamente.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A DIREITA PORTUGUESA E O SYRIZA


A Direita portuguesa mobiliza-se, em fúria, contra o Syriza. Ela teme que em Portugal possa aparecer um outro Syriza , que lhes possa roubar espaços e prebendas. Não pode usar o argumento de tal força não estar legitimada - já que a maioria absoluta ficou perto. Por tal facto, trata de questionar a viabilidade do respectivo programa político e de indagar sobre a natureza das suas alianças pós-eleitorais. Este fenómeno é curioso, por denunciar uma flagrante incoerência. Em Portugal, nem o CDS é democrata-cristão, nem o PSD é social-democrata. É notória, por parte destes dois partidos, uma completa abdicação de princípios. Mas a Direita não interpela esta sorte de demissões de consciência. Faz-lhe mais jeito increpar ... a Grécia. 

Se a Grécia conseguir, junto das instâncias europeias, alcançar alguma renegociação, por pequena que seja, tal significará a exautoração pública daqueles políticos que vieram dizer, desde a primeira hora, que "a solução era só uma" e que "não existiam quaisquer alternativas". Quando esta Direita se queixa da "maniqueísmo" das forças que não lhe são afectas, esquece-se desta pequena nota: desde o princípio desta gravíssima crise social europeia que as forças da Direita, em Portugal, foram as mais intransigentemente maniqueias, ao sublinhar que "a solução era só uma" e que " não existiam quaisquer alternativas". 

Se a Grécia falhar a sua missão, quem irá falhar também é a Europa. Não, decerto, essa Europa arrogante, soberba perante a miséria dos pobres, insensível perante o drama das famílias, revendo-se, altaneira, nas missas financeiras com que vão adulando a voracidade dos "mercados financeiros" e do grande sistema bancário internacional, que mais não é do que a rapacidade institucionalizada. Mas perderá essa outra Europa humanista, generosa, tolerante, dialogante, tal como a quiseram Monet, Willy Brant e até (imagine-se !) Konrad Adenauer ( democrata-cristão ... a sério !).

in "Facebook",  Amadeu Homem